Pirataria causa rombo de meio bilhão e ameaça futuro do Premiere
A pirataria voltou ao centro do debate esportivo no Brasil — e dessa vez, com cifras alarmantes. A Globo, maior emissora do país, revelou um prejuízo milionário com o serviço ilegal conhecido como “Gatonet”, que transmite partidas do Premiere sem autorização. O impacto? R$ 500 milhões a menos por ano nos cofres da emissora.
O Premiere, canal exclusivo para jogos do Campeonato Brasileiro e estaduais, tem 2,5 milhões de assinantes oficiais. Porém, segundo estimativas internas da própria Globo, quatro em cada cinco pessoas que assistem aos jogos não pagam pelo serviço. Ou seja, para cada assinante legalizado, existem quatro “piratas” acessando o conteúdo de graça — ou quase.
Esse cenário representa um desafio gigantesco, não apenas para a emissora, mas para o futebol brasileiro como um todo. A maior parte do que os clubes arrecadam vem dos direitos de transmissão. Com menos receita entrando, os times correm o risco de ver seus investimentos reduzidos e a qualidade do espetáculo cair.
O diretor da Globo, Manuel Belmar, não escondeu a gravidade da situação. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele admitiu que a situação é “endêmica” e alertou que, sem apoio dos clubes e da torcida, a conta pode não fechar por muito tempo.
Belmar fez um apelo aos dirigentes dos clubes, pedindo que eles ajudem a conscientizar o torcedor sobre os danos causados pelo Gatonet. “É um roubo coletivo. E quem paga, no fim das contas, é o próprio futebol”, afirmou o executivo.
Apesar do apelo, os números jogam contra a emissora. Os preços praticados pelas redes piratas são tentadores. Veja a comparação:
Diferença entre o Premiere e o Gatonet:
- Premiere (anual): R$ 29,90 por mês (R$ 358,80 ao ano)
- Gatonet: R$ 20 a R$ 50 mensais + aparelho de R$ 150 a R$ 300
- Sites que transmitem gratuitamente
Além disso, o Gatonet oferece um “combo” irresistível: todos os canais em um só lugar, sem precisar assinar diversos serviços ou lidar com a pulverização das transmissões — hoje divididas entre TV aberta, TV por assinatura, pay-per-view e até influenciadores digitais.
Outro fator que dificulta o combate é a sofisticação tecnológica dos piratas. Enquanto a Globo apela à consciência dos torcedores, outras organizações, como a LaLiga (liga espanhola), já adotam ações concretas. A entidade, por exemplo, se aliou ao Núcleo Antifraude da ABTA no Brasil para rastrear e derrubar transmissões ilegais.
O mais impressionante? Em 2019, a LaLiga foi flagrada usando seu próprio aplicativo oficial para monitorar o som ambiente de bares na Espanha — o app ativava o microfone do celular e cruzava os dados com a geolocalização para detectar estabelecimentos que exibiam partidas clandestinamente.
No Brasil, nenhuma ação semelhante foi anunciada, mas a pressão aumenta. Enquanto isso, o Gatonet cresce como uma praga difícil de conter, seduzindo torcedores com economia e conveniência — mesmo que o preço final seja o colapso do futebol na televisão.