O Idioma de Portugal

Membro conhecido
Oct
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Mas, na prática, o português do Brasil evoluiu dramaticamente a ponto de ter características únicas. Se, por um lado preservamos estruturas arcaicas que praticamente caíram em desuso em Portugal [sistema vocálico aberto, gerúndio, próclise...]. Por outro, introduzimos vários elementos incomuns não só no português como em todo o mundo latino como as estruturas analíticas ["Eu disse a ela" e não "Eu a disse" ou "Eu disse-a"], a dupla negação ["Não quero não"] e a flexibilização do artigo no plural ["Os menino"].

Para muitos brasileiros, a dupla negação funciona como ênfase, mas não é unanimidade nacional.
Os sulistas dizem:
Não é, não!
Os nordestinos dizem:
É não...

A dupla negação não é compreendida pelos gringos.
É como se falássemos em inglês:
Yes, I don't.
Conflito lógico, com certeza...
 
Membro conhecido
Jun
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Eu sei que a lingua é viva, mas ate onde eu sei, NUNCA, em tempo algum, que falar "os menino" deixou de ser um portugues errado, seja escrito, falado, telegrafado, pensado ou o que for... Igualzinho a "os pobrema" e outros exemplos.

E no caso do uso de uma construcao como "eu a telefonei" ou "eu a disse" isso passou a se tornar lugar comum em forma escrita, na midia e nos sites de internet. E ate onde sei (alguem me corrija se eu estiver errado), continua sendo uma forma ERRADA de escrever. Supostos jornalistas estao escrevendo dessa forma aos borbotoes por aí, mas isso nao "legaliza" essa forma de escrever.




Seu argumento difere dos links que voce passou... Incorporar palavras de outros idiomas em nossa Lingua (como o citado exemplo da palavra "caçula" que um dos links cita), é muito diferente de "legalizar" uma forma errada de falar Português. Uma enorme quantidade de pessoas fala "figo" (no lugar de figado), ou "os menino"? OK, mas continua sendo errado, seja falado ou escrito.

Ja outras formas realmente sao incorporadas, como o famoso exemplo do pavoroso termo "estadunidense" (dói nos ouvidos ouvir esse termo), o qual, por pura ideologia, as Esquerdas começaram a empurrar para nós nos últimos anos, a partir das Universidades, em substituicao ao muito mais usual "americano" ou "norte-americano".

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Mais uma vez eu reitero: não confunda a gramática normativa com a fala informal do cotidiano. Estar "errado" não quer dizer que ela não exista. A pergunta deveria ser: "De onde veio essa construção?" e o trabalho de Yeda Pessoa de Castro tenta procurar a origem do palavreado popular na influência banta comum a todo o país e que vai além do vocabulário. Leia o trabalho desta pesquisadora e depois me diga o que achou...

Em tempo: se não fosse as ações enérgicas do Marquês de Pombal no século XVIII, era bem provável que falássemos um crioulo de base portuguesa mas de forte influência afro-indígena. E a maior prova disto é que vivemos uma espécie de diglossia: a língua da gramática normativa e a língua do cotidiano, mesmo entre pessoas altamente letradas. Aposto que se você colocar um gravador em momentos informais você, com certeza, cairá em alguma construção supracitada. Falar o modelo normativo te fará um pernóstico mesmo na área de linguística.

A construção "eu a telefonei" e "eu a disse" não só está correta como ela tem nome: próclise e é comum no espanhol: "No te escribo desde que se rompió el ordenador". Assim como o gerúndio, tido como "errado" em Portugal: "comendo, falando, morrendo...".
 
Membro conhecido
Aug
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Mais uma vez eu reitero: não confunda a gramática normativa com a fala informal do cotidiano.

Acho que voce é quem está fazendo confusoes...

Português falado é OUTRA coisa. Qualquer lingua do planeta aceita que as pessoas falem de forma informal que viole regras, durante uma conversacao. Porem, de forma alguma, em hipotese alguma, isso torna automaticamente aquela forma falada em "correta". O errado, aqui, é querer impor que "está certo". Nao, nao está "certo", apenas se aceita durante uma conversacao. Pode até ser que algum dia a Norma mude e se passe a aceitar aquela forma errada, porem ate que isso aconteça, ela continua sendo uma forma errada.

É tudo muito simples: as pessoas falam errado e a gente aceita isso durante uma conversacao. Porem, continua sendo uma forma errada da lingua. O simples uso diario nao transforma o errado em certo.


A construção "eu a telefonei" e "eu a disse" não só está correta como ela tem nome: próclise e é comum no espanhol.

Que salada... Nao tem NADA A VER com proclise...
Está errado porque, se quer usar proclise, entao o correto é "eu LHE telefonei" e "eu LHE disse".
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Membro conhecido
Aug
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Brasil: Dar frutos.
Portugal: Estão a dar frutos.

No Brasil nós sempre usamos o gerundio quando o sentido é de "presente continuo", ou seja, uma ação que está em andamento e que ainda nao acabou. Exemplos: estou fazendo, estou falando, estou trabalhando... (nao confundir essa forma correta de uso do gerundio com aquela aberracao que é a forma do telemarketing falar, eles falam "vou estar fazendo", "vou estar falando", etc. e isso nao existe em Portugues).

Ja em Portugal, quando o sentido é de "presente continuo", os patricios falam: "estou a fazer", "estou a falar", "estou a trabalhar"...

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Membro conhecido
Oct
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OS PERIGOS DAS ANALOGIAS

Dizem que a língua tem alma, não necessariamente lógica.

É bem conhecida a piadinha da criança que vai ao armazém fazer uma compra:
-Seu Manuel, quero dois pãos.
- Você quer dizer dois PÃES, não é?
-Isso!
-Aqui estão. Trouxe a sacola?
-Não, Seu Manuel. Vou levar nas MÃES.
...

Meu irmão José Luiz, membro do HT-Fórum é professor de português e vez ou outra puxa nossas orelhas.

É sabido que o padrão culto é ditado pelos grandes poetas e escritores de nossa língua. Uma dica é a questão do "soar bem". A língua deve ter musicalidade?

Vejamos o caso de alguns verbos que dão origem a substantivos:
Entupir, desentupir, desentupidor. Cobrir, cobertor.

Mais um exemplo de choque que dói nos ouvidos:

- Porta ABRIDA ou Porta ABERTA?
Não é preciso ser nenhum músico para dizer que isso dói demais aos ouvidos.

Eis que discutíamos essa acalorada questão num boteco

Qual é a locução correta:

Ser ABERTO ou Ter ABRIDO?
De acordo como os guardiões da língua, sempre Ser ABERTO, Ter ABERTO!

Uma vez vencido pelo padrão culto da língua, gritei:

Garçom, garçom! Por favor, traga-nos um ABERTOR de cerveja, urgente!
 
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